Spleen e charutos

janeiro 13, 2011

Nantes toca The Beatles na Cultiva

Filed under: Spleen — spleencharutos @ 5:25 am

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

No canto direito do notebook, a madrugada avança. Há muito tempo, o relógio marcha inútil, sem dizer palavra. Pela boca dos alto falantes, do alto de minha janela no terceiro andar, quatro moleques que nunca pretenderam outra coisa, além de fazer barulho, quebram o silêncio gelado da praça e acordam os vizinhos com um refrão adolescente. A redação desta matéria e o repertório preparado pela Nantes para o tributo desta semana têm origem lá em 1964, no horizonte tacanho de uma cidadezinha portuária. Espertos como a gota, no entanto, acompanhamos os passos dos quatro cabras de Liverpool até muito longe de casa. “Now let me hold your hand”.

A julgar pelo set list enviado por Arthur Matos, a voz mais educada do underground sergipano, a rapaziada da Nantes vai suar um bocado depois de receber o palco do colega Werden (dono de um trabalho autoral que ainda não recebeu a devida atenção desta página). Nada menos do que cinqüenta canções foram pinçadas da extensa discografia dos Beatles, sem nenhuma distinção entre suas diversas fases, para serem executadas na Cultiva.

Podem esperar duas horas de show, sorrindo. Como já deixou claro em oportunidades anteriores – quando reproduziu o derradeiro “Let it be” (1970) de cabo a rabo, por exemplo – a Nantes tem competência suficiente pra deixar qualquer beatlemaníaco embasbacado.

Take a sad song and make it better – Arthur garante Beatles pra todos os gostos. Canções de estrutura simples e refrão pegajoso, a exemplo de “Twist and shout”, “Help!” e “Can’t buy me love”, dividem a atenção dos músicos com petardos da linhagem de “Something”, “Golden Slumbers” e “The end”, provando a gregos e troianos que, na alegria ou na tristeza, os Beatles foram felizes como ninguém.

Tão felizes que apelam para nossos instintos primitivos. Depois de adicionar as músicas que devem fazer parte do show, uma por uma, no player do computador, fui obrigado a aumentar o volume mais de uma vez, ignorando os cuidados que o horário recomendava.

Atire a primeira pedra quem se manter impassível com “Dig a pony” nos ouvidos. Levantei eu mesmo um brinde, seguindo o conselho do riff ensandecido da canção, e mandei tudo pro diabo. “Well, you can celebrate anything you want”.

É preciso um coração de pedra para escutar “Hey Jude” sem cantar junto. Não existe nervo de aço que justifique qualquer pontinha de indiferença em relação a “Blackbird”. Não respeito uma pessoa que não se emocione logo nos primeiros acordes de “A day in the life”.

Pra não dizer que tudo são flores e que não senti falta de nenhuma canção, adicionei “Sexie Sady” por conta própria, e fiquei curtindo a música até muito tarde, sonhando com o sadismo de uma mulher que eu não conheço e nunca vai sorrir pra mim. Podre de bêbado, completamente sozinho.

2 Comentários »

  1. não sei se já lhe disse, mas é sempre um prazer lê-lo aqui, especialmente daqui de tão longe. Um brinde a suas palavras.

    Comentário por Bruno Pinheiro — abril 8, 2011 @ 7:55 pm

  2. Sério mesmo?! Bruno Pi?! Porra, agora fiquei envaidecido! Um abraço, meu querido!

    Comentário por spleencharutos — abril 10, 2011 @ 2:06 pm


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